Dizem que os shopping centers e as galerias comerciais, outrora tão frequentadas, estão com os dias contados. Embora em grande parte, a forma como costumávamos consumir tenha mudado consideravelmente ao longo dos últimos anos e sobretudo após o início da crise sanitária de Covid-19, com muitas lojas passando a operar apenas no mundo virtual, parece que muitas das mudanças que a pandemia nos trouxe chegaram para ficar. À medida que as nossas cidades continuam a crescer a um ritmo bastante acelerado, e os grandes centros comerciais e shopping centers—por outro lado—permanecem vazios e ociosos, há uma pergunta a se fazer: existe alguma possibilidade de transformarmos estes ambientes de consumo em moradia para aqueles que mais necessitam?
A mudança na forma como consumimos já estava em andamento até mesmo antes do início da pandemia. Uma transformação que foi apenas acelerada a medida que boa parte da população mundial foi forçada a ficar em casa, retrocedendo para dentro do espaço doméstico. Pesquisas indicam que apenas nos Estados Unidos mais da metade das lojas de departamentos do país terão fechado definitivamente as suas portas até o final de 2021, com as principais redes de varejo não muito atrás. De fato, a Neiman Marcus, uma das principais loja de departamentos de artigos de luxo, fechou recentemente sua principal loja no recém inaugurado Hudson Yards, em pleno centro da cidade de Nova Iorque. Marcas mais populares como a Gap, a Nordstrom e a Forever 21 anunciaram também o fechamento definitivo de muitas de suas lojas ao longo da pandemia, um movimento que resultou em um aumento significativo das ofertas de espaços comerciais em galerias e shopping centers, uma bomba relógio com data para estourar.
Este recente colapso do comércio de rua somado à escassez experimentada pelo mercado imobiliário fez com que investidores e incorporadores se perguntassem se existe uma outra solução no horizonte para reinventar estes monstruosos espaços que ocupam importantes localizações de nossas cidades—sendo que alguns já estão assumindo o risco e começando a contar com os futuros e previstos lucros deste negócio. Na cidade de Providence, Rhode Island, um centro comercial construído no início do século XIX foi recentemente reformado e transformado em um conjunto residencial de 48 unidades. O primeiro pavimento foi mantido como uma galeria comercial, além de contar com um restaurante e uma cafeteria. O sucesso deste projeto abriu novas possibilidades e começa a chamar a atenção de diversos investidores pelos quatro cantos do país.
Nos arredores da cidade de Seattle, um projeto similar está em andamento no famoso Alderwood Mall. Mas diferentemente do exemplo de Providence, ao invés de transformar uma estrutura existente de shopping center em moradia, eles começaram a construir cerca 300 unidades residenciais ao redor de um antigo centro comercial ao ar livre, transformando a antiga praça em uma espécie de pátio, algo que provavelmente beneficiará ambas as partes. O projeto, que deverá ser concluído no ano que vem, espera atrair novos locatários e moradores, revitalizando todo o bairro. Além disso, muitos dos atuais inquilinos permanecerão alugando seus antigos postos comerciais pelo mesmo valor, uma estratégia que seguramente renderá muitos frutos.
Além da atual tendência em transformar shoppings em moradia, há uma lição que devemos aprender com isso tudo. Transformar imóveis vazios e desocupados, tornando-os úteis novamente e devolvendo-os aos moradores de uma cidade, seja talvez a nossa melhor solução e uma oportunidade que não podemos deixar passar. Se a industria da construção não é capaz de acompanhar a demanda por novas moradias, precisamos encontrar novas soluções que nos permitam disponibilizar casas para todos, onde quer que elas estejam.
Convidamos você a conferir a cobertura do ArchDaily relacionada à Covid-19, ler nossas dicas e artigos sobre Produtividade ao trabalhar em casa e aprender sobre as recomendações técnicas para criar uma arquitetura saudável em seus futuros projetos. Além disso, lembre-se de revisar os conselhos e informações mais recentes sobre COVID-19 no site da Organização Mundial da Saúde (OMS).